domingo, 23 de março de 2008

Eu sou um spam?

Esta semana fui “calada” em uma sala de bate papo. O sistema de gerenciamento da sala identificou-me como um “spam”. Motivo: meu fluxo denso de idéias convertidos em uma seqüência sucessiva de falas cascateadas (jeito chique de dizer que sou uma tremenda tagarela) não poderia vir de um indivíduo interessado apenas em trocar idéias. Como eu poderia me manifestar com tanta eloqüência, como eu poderia ter tanto a dizer se não estivesse interessada em divulgar pornografia ou golpes telefônicos? Não me comportei como o previsto fui parar em um “gancho”, “ignorada” pela maioria. É isso, agora determinam o quanto você pode falar, encontra-se pré-estabelecido o que um sujeito normal produziria de mensagens instantâneas. Camisa de força tamanho P para mim, senhores, por favor!

"Darwin errou em tudo"

Certos absurdos sociais têm sido justificados pelas pessoas com a expressão “Ah...isso é normal!”. Tudo indica que o número de pessoas agindo de forma inadequada e o tempo que tal comportamento encontra-se em vigência legitima o torto. “Todo mundo faz assim. É assim que funciona. Não tem como mudar. É normal.” Dá medo a forma de acomodação em massa. Era sobre isso que Nietzsche falava em Vontade de Potência ou entendi errado? Em suas palavras:
“ O que mais me surpreende, quando passo em revista os grandes destinos da humanidade, é ter sempre diante dos olhos o contrário do que hoje vêem ou do que desejam ver Darwin e sua escola: a seleção em favor dos seres mais fortes e bem nascidos, o progresso da espécie. Mas é precisamente o contrário o que entra pelos olhos: a supressão dos casos felizes, a inutilidade dos tipos melhor nascidos, a dominação inevitável dos tipos médios e até dos que estão abaixo da mediana. A menos que me demonstrem a razão que determina ser o homem exceção entre as criaturas, inclino-me a crer que a escola de Tipos médios, rebanho, Darwin. Essa vontade potência, em que reconheço o fundo e o caráter de toda mutação, explica-nos porque a seleção não se faz precisamente em favor das exceções e dos casos felizes: os mais fortes e mais felizes são fracos, quando têm contra si o os instintos organizados do rebanho, a pusilanimidade dos fracos e o grande número (...).”

terça-feira, 4 de março de 2008

Show de ciência e pobreza de repertório: alguém aí sabe a receita de suco de criatividade?


"É macumba ou ciência?"


É bacana que as emissoras de televisão estejam abrindo espaço para ciência. Entretanto, diante de tal oportunidade, é desanimador ver como a ciência tem sido apresentada. “É macumba ou ciência?”, bordão gritado ao longo de uma das apresentações dominicais, ilustra o tipo de escolha feita pelos educomunicadores. Parece não haver muitas opções, ou nos entregamos á figura ransosa do professor e reproduzimos na mídia a sala de aula, ou convertemos as apresentações em verdadeiros espetáculos, utilizando as mesmas estratégias empregadas nos shows televisivos.


"Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor! Hoje tem goiabada? Tem sim, senhor!"

As implicações de parecer-se com uma aula são terríveis, pois infelizmente, a sala de aula aparece no imaginário das pessoas associado a algo chato, aborrecido e insosso. E para estar na TV é preciso ser bom de briga, segurar o Ibope pelos chifres! Pensando nisso, o formato “show de ciência” prolifera, mesmo que o preço seja reforçar alguns estereótipos na representação do cientista em cena, sempre meio amalucado, além de investir pouco nas explicações. Quem assiste fica com a impressão de ter presenciado uma mágica. Nesse caso a ciência é confundida com um show de mágicas, um espetáculo de truques. Mas enquanto o truque da mágica precisa ser uma enganação e não pode ser desvendado com o risco de perder toda a graça, o truque da ciência possui uma explicação e a graça maior é exatamente entender o que aconteceu! Será que quem opta por esse tipo de formato não tem muita fé nessa graça presente na explicação, na compreensão do fenômeno?


Muito boa a aula que você deu na televisão!

Nas minhas participações na TV Gazeta, que são basicamente experimentações de formatos, tenho tentado evitar o espetáculo. E embora também tente evitar o formato aula, muitas pessoas elogiam “a aula que eu dei” na televisão. Há algo na minha performance que tem “segurado a audiência”, mesmo que todos identifiquem em mim a figura do professor. O que é, eu ainda não sei. Tenho convidado todos a interlocução, mas são poucas as contribuições nessa análise. Quem pretende como eu utilizar a mídia como suporte para a popularização da ciência, precisa descobrir um caminho próprio, estratégias para despertar o interesse com a nossa cara, sem reproduzir as estratégias da sala de aula, tampouco imitar os shows de variedade. O conteúdo, a ciência, é delicioso! A forma dada a esse conteúdo pode ser diversificada, um repertório de formatos ampliado.


Vou vender suco na praia!

É preciso também sair da superficialidade e/ou erudição da discussão sobre divulgação científica. “Falar difícil” quando se pressupõe um público sofisticado, ou bestializar quando falamos para o telespectador dominical. Ter respeito pelo sujeito na recepção e considerá-lo um ser pensante poderia nos ajudar a sermos mais ousados e corajosos, capazes de trabalhar formatos mais provocadores. E aqui incluo respeito pelo público “dito” sofisticado, dotado de uma capacidade de concentração elástica, submete-se, em nome da boa informação, a longos e previsíveis documentários e produções jornalísticas. Meu desânimo é grande, amigos, manifestem-se...Tô com muita vontade de vender suco na praia.... Alguém aí sabe a receita de um suco de criatividade?