sábado, 29 de novembro de 2008

Paleontologia e teologia

Antes de partir fiz uma enquete sobre a imagem que os visitantes do Viveiro teriam da figura de um cientista. Na realidade minhas perguntas eram uma aposta pessoal de que um cientista não seria associado á religiosidade. Quase acerto, não fosse o cientista dançando axé para empatar com o cientista carola. De qualquer maneira o que a enquete nos conta é que pelo menos para parte dos nossos visitantes, aqueles que nos deram a felicidade de votar, os cientistas são seres destituídos de fé e alegria. A alegria enquanto estádio de paixão contamina a lucidez da ciência. Outra hora falamos disso. Agora gostaria de falar de Deus. Não, não se trata de um post evangélico, respeito a crença de cada um e entendo que esta é uma jornada solitária, perguntar-mos se de fato há um Deus. Eu já fiz esta perguntas inúmeras vezes quando mais jovem e vez ou outra ainda a faço. Sou um ser pensante e as certezas me deixam sem ar, sufocam-me. Qualquer tipo de certeza! Todos sabem que sou bióloga, com formação básica na área da ciência, da pesquisa. Na graduação, Deus não era convidado as nossas conversas, mesmo que muitos de nós quase que escondêssemos ir aos domingos a alguma igreja. Eu tive um professor de paleontologia na faculdade que havia sido padre. Eu morria de curiosidade de fazer certas perguntas a ele, minhas questões, imaginava que ele já havia passado por elas. Mas nossos professores eram todos ateus convictos ou preferiam a omissão. Um dia perguntei. Ele me olhou com espanto. O que me ficou deste episódio, é que aquele homem que tanto admirava, ele também tinha dúvidas e dificuldades em estabelecer um diálogo entre sua atuação e sua fé. Isso porque o cientista sofre a doença da explicação, é preciso explicar tudo. E fé não se explica, é mistério puro, é sentir e fim de papo. Eu acredito em Deus, e sou pesquisadora. Não estou a falar em uma força do universo, nada disso, falo de Deus mesmo, o bíblico. Aceitei o que não explico, o mistério. Lembro-me de quando comecei a estudar os cupins na graduação, e me encantei com os tipos de antenas e nasus, as cores, as estratégias...Ali questionei o acaso. Semana passada vi no Oceanário de Lisboa anêmonas lilases, azuis, amarelas....Perfeição. Perfeição como minha cachorra, a que ilustra esse post. Mas que cada um trilhe sua jornada de questionamentos, chegue onde chegar. Eu cheguei em um coral de Natal....e não me fui mais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cara Ana Paula,

Eu não resisti a essa sua postagem sobre perfeição... Se Deus existe, não sei, e não sei se alguém sabe, mas muita gente já tentou me convencer disso. Se a perfeição existe, também não sei, mas vivo a buscá-la, e isso já me angustiou demais: quando ela parece estar lá, não está mais. Enfim, em minha vida juntei uns tantos diplomas e cursos na bagagem, e hoje sou professor e pesquisador - um cientista vagabundo, mas cientista - por conta, em parte, dessa busca pela perfeição. Não sou biólogo, mas vivi e vivo com um punhadinho deles, e do que aprendi, da química, da biologia e da física, sei que a vida, qualquer vida e todas elas, não é perfeita, mas pode parecer. No entanto, deixando para trás as aparências, pode-se ver a beleza, real e permanente, que há por aí, em todo lugar, seja num aquário, num cão, num texto, numa dúvida, numa idéia, num instante - se alguém me dissesse que isso é Deus aí talvez me convencesse. Mas ninguém nunca me falou nada sequer parecido, e por isso mesmo eu me desespero: sou eu que sou doente ou é o mundo inteiro que é cego? As probabilidades estão contra mim...

Um abraço!

Anônimo disse...

Adorei..Talvez sermos plenos, íntegros...Vida em potência...

Anônimo disse...

adoreiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii ver a perfeição da lolo no viveiro, Deus não se explica, sente-se no coração aquecido, e é uma delicia sentir o amor dele.