domingo, 28 de dezembro de 2008

Caixa preta

Na minha opinião, provavelmente grandemente "contaminada" pelo que sou, ser professor é ofício mais sofisticado que pode haver. Lidamos com o invisível, o que se desenrola na cabeça do outro, caixa preta inviolável. Inventamos maneiras para que este outro materialize o teatro de imagens que está a acontecer. Ele fala, ele escreve, ele constrói. Garimpamos evidências. Mas não há como saber. Alguns acreditam ingenuamente que a aprendizagem pode ser averiguada pelas avaliações/provas. Por vezes é ingrato ser professor. Semeamos o invisível, não sabemos se haverá colheita, e se houver muito certeiramente não estaremos por perto para apreciá-la. Trabalhamos arduamente no presente, mas o resultado pode só surgir no futuro. Nessa jornada, é bom termos outros professores por perto, ter com quem compartilhar estas angústias da profissão. Na minha trajetória estes colegas foram muitas vezes determinantes. Colegas mais experientes, diferentes de mim, que enxergavam outros vieses ou que simplesmente diziam doer no mesmo sítio onde me doía. Mesmo porque socialmente a profissão de professor aparece como uma prática simples: cobrir a lousa de lições, corrigir trabalhos de casa, aplicar provas e ganhar maçãs e flores dos alunos. Os alunos não são tabulas rasas! São indivíduos vivos e pulsantes, cheios de afetos e desafetos. Entre as competências que possuem e as que gostaríamos de ajudá-los a desenvolver há um oceano de complexidades que irão emergir bem no meio da nossa sala de aula! Cada aluno é mais que um copo físico, há um cenário mambembe ao redor de cada um com a história que cada uma traz e que poderá ser um facilitador ou um empecilho para o processo do aprender. As vezes tudo isso me cansa...Fico com vontade de ser outra coisa na vida, ganhar mais dinheiro, ir a reuniões produtivas, ter a admiração dos outros pela profissão que escolhi...
Mas aí, num domingão como este...cai do céu um email de um ex-aluno...Falando-me do que aprendeu comigo...do quanto foi importante....Uma declaração gratuita sobre o meu semear...E aí dá uma vontade boa de continuar semeando....
Foto da Praça da Espanha, Lisboa, inverno...

Um comentário:

Anônimo disse...

amei o texto, espero que todas as caixas pretas continuem pensantes.