segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Por que nossos alunos encontram-se desmotivados?

Enquanto posto delicio-me com um generoso pedaço de panetone e aqueço-me com uma xícara fumegante de chá. Pena que não possa estender ao meu leitor minha "merenda" a fim de tornar esta conversa em um cena típica de um momento entre amigos. Quero falar sobre o post anterior, o comentário do meu visitante Dedalus (http://dedalus-atlas.blogspot.com/) e seu último post em seu instigante e poético blog, e ainda as muitas conversas com professores que tenho vivido aqui em Lisboa. Dedalus, sim, o Rubem Alves não é um apreciador da escola. Mas é importante esclarecer que ele não aprecia a escola tal qual ela está organizada. Há um livro(A escola com que sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir) no qual ele descreve uma escola que ele aprecia muitíssimo, a Escola da Ponte, localizada aqui em Portugal. Ele critica o formato decoreba, as práticas que reforçam o "não pensar", a pouca ousadia do educador. Se a escola é para você Dedalus um lugar bom, é preciso considerar que o mesmo não acontece para a a maioria das pessoas. Normalmente quando inquirimos alguém acerca dos seus sentimentos com relação a escola e este declara ter boas lembranças, basta algumas novas questões para descobrirmos que esta pessoa gostava mesmo das situações sociais, estar entre amigos. Entenda, eu digo isso com profundo pesar, pois tudo que eu mais queria na vida era que as pessoas se interessassem espontâneamente pelo conhecimento, independente dos nossos esforços como professores. E para mim a escola deveria ser o espaço fomentador dessa empreitada formativa do homem, como a Skolé de Epicuro! Mas infelizmente nossos alunos encontram-se desmotivados. Uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas no ano passado revelou que aproximadamente 45% dos alunos que se encontram fora da escola no Brasil o estão pois "não querem a escola tal como ela é". Se uma criança vê uma aranha caminhar sobre a água e pergunta para sua professora como aquilo se dá e ela diz "ah! isso é assunto para a oitava série" não há como pedir que nossos jovens mantenham-se curiosos. Se eles são ensinados desde cedo que existem repostas corretas e respostas erradas não há como esperar que eles sejam quetionadores. Se há uma curiosidade genuína própria do bicho homem (e eu preciso acreditar que ela exista!) a escola com seus mecanismos enquadadores tem mutilado muitos dos nossos jovens. Insisto que se para você isso não foi assim, lembremos que as pessoas são diferentes, não pode haver um só modelo para a diversidade de formas de pensar. Aqui em Lisboa eu tenho participado de discussões de professores que têm tentando encontrar "outros jeitos de ensinar" insatisfeitos com o pouco envolvimento dos alunos com os conteúdos. Hoje estive com uma professora que testou uma metodologia diferente para o ensino de "astronomia". Lógico que lembrei do seu post. Ela inquieta-se com a pluralidade de respostas e desempenhos. Convocamos autores diversos da educação para tentarmos compreender. E eu com meus botões sempre pensei: "meu Deus! astronomia é um assunto maravilhoso! a aula está pronta, basta olhar para o céu e dizer 'eu vou contar uma história'..." Mas didatizamos a poética do cosmos, e os alunos reconhecem o formato escola, e regurgitam como podem. Dedalus, seu método parece funcionar para os Dedalus presentes nas suas turmas, mas imagino que você queria "encantar de ciência" aqueles que vivem no desencanto, não? Então precisamos pensar outros caminhos, outras estratégias. Dedalus, você é um contador de histórias. Sua descrição do siri nadando em seu blog foi uma das cenas mais graciosas e revigorantes com que me deparei ultimamente. Não sei o tipo de professor que é, mas você fala com essa paixão com seus alunos? Você chegou a pedir que eles produzissem algum modelo, colocou-os em ação? Fizeram alguma saída para um observatório, planetário ou mesmo uma saída noturna? Que tal um blog sobre o cosmos gerido pelos alunos? Quando dei aulas na universidade também tive problemas com a leitura dos textos (é um problema geral). Costumava fazer uma síntese dos textos previstos para as aulas seguintes ao final de um encontro, uma síntese bastante enfática, uma espécie de "semeadura"....Falei demais. Espero que esta conversa continue.

Alguns dados: 1) Nossos jovens nunca leram tanto! Onde? Na web...; 2) Programas educativos sob o formato History Channel são rejeitados pela população por assemelharem-se as práticas educativas proprias da sala de aula.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ana Paula,

Obrigado pelo comentário em meu blog e pelo diálogo. Gostaria de poder responder de imediato, mas a vida me chama, agora, para outras paragens. Amanhã escrevo mais: acho que essa conversa pode ser bastante frutífera.

Um abraço!