terça-feira, 13 de maio de 2008

Um desabafo: Déficit de respeito à diversidade


Mesmo distante da TV, não posso deixar de sentir raiva do noticiário referente ao ex-coordenador do curso de medicina da UFBA que segundo a Folha de São Paulo, disse que os Baianos possuem QI baixo e que “baiano só toca Berimbau porque só tem uma corda”.

Nessa afirmação, ficam evidentes três absurdos. Primeiro, o absurdo do preconceito, segundo, o absurdo de um médico, doutor ainda ter crença nos métodos de QI extremamente defasado e questionado por todo o mundo, e por fim, o médico deixa evidente a sua auto estima estraçalhada, pois o mesmo é baiano e não sente vergonha de propagar em rede nacional a sua ignorância e medo de aceitação, quando tenta se defender falando mal do povo da sua própria terra.

Pior que isso, é que, na busca de informação sobre o assunto, dei de cara com um artigo na Folha de São Paulo (de novo) cujo o título era: Déficit de QI baiano é verdade quando o jornalista diz que de fato a Bahia está em Déficit porque as mentes inovadoras saem do Estado e buscam oportunidade em outros lugares. O Jornalista diz com naturalidade:


É gente formada, em geral, nas boas escolas e, como é normal entre os imigrantes, são empreendedores e esforçados. Alguns montam seus próprios negócios e ajudam a inovar e gerar empregos. Vejo como muitos deles prosperam rapidamente, beneficiados pela criatividade baiana combinada com a disciplina paulistana.

Diante da quantidade de gente de outros estados morando na Bahia, fica difícil saber ou identificar a cultura como algo própria da essência do povo que nasce lá. A Bahia é um Estado extremamente misturado e diverso. Tal como São Paulo, que é considerado um dos Estados mais nordestinos do País.

Não há mais, se é que houve algum dia: o paulista, o baiano, o gaúcho etc. puros, porque todos estão migrando dentro do País. Hoje, o que identifica alguém dentro de uma região é o tempo em que se está lá, lembrando que o tempo é relativo também. Ou seja, não dá pra identificar.

O paulista "trabalhador" e "disciplinado" é o baiano também, que está trabalhando lá como empresário como mão de obra barata. O baiano criativo, festeiro e "preguiçoso" é também o paulista, o gaúcho, o catarinense, o paranaense, o mineiro, o italiano, o alemão, que saem das suas terras, buscando oportunidade e uma lógica de vida que poucos lugares têm e estão lá, também fazendo da Bahia o que ela é hoje.

Diante da facilidade de locomoção e deslocamento até a expressão “sua terra” é defasada. Sobretudo nos dois Estados citados, Bahia e São Paulo. O jornalista, que chama o ex-coordenador de preconceituoso diz também que:

Quando se estuda por que determinada empresa, cidade ou país prospera e se destaca sempre vamos encontrar os inovadores. Os inovadores gostam de estar com outros inovadores pela simples razão de que detestam a repetição e a mediocridade.

Quando estudamos porque uma empresa, cidade ou país entra em decadência, vamos encontrar também a fuga ou o sufocamento de seus inovadores esse é o custo do déficit de inteligência.

O que é um superávit extraordinário para São Paulo é um tenebroso déficit para quem exporta essa mão-de-obra.

O que esse jornalista quer dizer? Que quem sai da Bahia é inovador. Quem fica é medíocre e quem vai morar na Bahia então o que é que é? E... mais, quem sai da Bahia e vai pra São Paulo é o máximo! Por fim, São Paulo é o lugar perfeito que só abriga os inovadores e gente inteligente que sai da mediocridade do resto do País. Ahhhhhh!!! Faça-me o favor !!!

E o cara, ainda se faz de preocupado...e diz contraditoriamente as suas afirmações:

“O que me deixa perplexo é que, na Bahia, quase ninguém parece perplexo com esse déficit de inteligência, o que acaba estimulando um círculo vicioso do baixo capital humano.”

Ora, se pela lógica dele, a Bahia está em déficit de inteligência, quem vai ficar perplexo com essa asneira, pelo amor de deus????

Por favor, me digam que eu interpretei mal esse texto.

Leia o texto:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u398811.shtml

5 comentários:

Anônimo disse...

Rozane, encontrei no site do Gilberto Dimenstein (www.dimenstein.com.br)alguns comentários sobre o referido artigo. Acho que munido de boas intenções o Dimenstein caiu na armadilha da ambiguidade textual. Ele quis dizer que muita gente muito boa oriunda da Bahia tem brilhado por aí, mas acabou deixando a possibilidade do contrário ser entendido e ainda, e isso é imperdoável!, deixou emergir o preconceito que nele reside (e que imagino, deve tentar combater!) ao falar de uma "certeira" disciplina paulista e criatividade baiana. Eu sou paulista e me considero criativa e nada disciplinada! Minha certidão de nascimento estará errada e só agora vou descobrir que sou uma "moça preta do Curuzu, beleza pura" ou...devemos celebrar que o mundo é um mundo de exceções! Vamos escrever pra ele, vamos, diz que sim?!!!!

Colei alguns dos comentários do site.
“Você tem razão quanto a esse déficit baiano de cérebros.”
Flávio José Gomes de Queiroz - flaviodequeiroz@gmail.com

“Outro fator da "fuga" de QI está nos baixos salários.”
José Alfredo Santana - jabsantana@uol.com.br

“O problema da Bahia está se agravando não por conta dos berimbaus ou atabaques tocados.”
Ricardo Duran - ricardo.bduran@terra.com.br

"Perfeito seu diagnóstico sobre o baixo QI baiano."
Leandro Aragão - leandro.aragao@uol.com.br

"Minas Gerais também padece de QI."
Gustavo von Krüger - gustavo.kruger@sumitomocorp.com

"Seu texto sobre o QI baiano não me acrescentou em nada."
Marcelino Pereira do Nascimento - marcelinopereiradonascimento@yahoo.com.br

"O que me preocupa é a extinção dos corações."
Reynaldo Lucio Braga Dias Moreira, São Paulo (SP) - reynaldo@tre-sp.gov.br

"Detesto estereótipos do tipo disciplina paulista e criatividade baiana."
Allan Edgard Silva Freitas, Salvador (BA) - reynaldo@tre-sp.gov.br

Anônimo disse...

Ana, eu já escrevi pra ele indignada..já mandei dois e-mails, um parabenizando o texto e outro fazendo criticas. Ele não respondeu. Escreve vc, talvez ele responda.bjs

Anônimo disse...

um link com um comentário interessante sobre esse texto da Folha de São Paulo:
http://estereotipos.net/2008/05/07/estereotipos-preconceitos-e-o-exercicio-do-jornalista-exercicio-de-preconceito-implicito-na-folha-de-sao-paulo/

Anônimo disse...

Rozane, eu gostei do comentário do professor. Só teria cuidado com 3coisas: 1)Achar que o Gilberto Dimenstein fala em nome dos paulistas e é um indivíduo represnetativo do universo paulista. No texto do professor há essa inclinação...Daí no lugar de estarmos tentando esclarecer o dito sobre os baianos, passamos a comabeter quem disse, "os paulistas". 2) Por que o professor não falou o nome sobre quem falava..Ai, que coisa irritante...Assuma, comprometa-se, dê a cara a tapa!3) Também não sei se é só impressão, e sei menso ainda se é o caso, mas há um mau hábito em nosso país em destruir gente de sucesso, e escrevr na Folha é sinal de algum sucesso (não importa o motivo que garantiu o espaço para o escrito, o que nem sempre é a qualidade dos seus pontos de vista. Dessa vez o Gilberto escorregou feio, mas já acertou também em outras ocasiões. Quem sabe ele não vai escrever sobre tudo isos novamente e tudo fica calro?
Bom, é isso...Na verdade poucos sabem, nos próximos dias a Bahia converte-se no lugar mais colorido e festivo do mundo...Quando as festas juninas acontecem...E a gente gastando saliva com essa história de preconceito...A diversidade aguarda acanhada sob a mesa...bjs

Anônimo disse...

Ana, na verdade não me importa se ele errou ou acertou. Só me importa, que diante do que ele falou eu tenho também direito de me manifestar.
Se não tá bom...pouco importa. Importa que o texto dele, deu vazão a mais diálogos sobre tudo isso.
Não acho que esse jornalista fale em nome dos paulistas. E não acho que o outro professor pense isso tb... mas se pensa...azar o dele.
A questão é que o nosso povo apesar de ter uma cultura linda e rica é muito apedrejado. Precisamos ao menos reagir a isso. Mesmo que não seja pra jogar pedra também.
Precisamos deixar na rede também outras idéias contrárias a essas ou responder a isso.
Outra coisa... não vejo isso de "derrubar" gente de sucesso.
O cara que escreveu o outro texto é baiano, e o sentimento de derrubar o sucesso desse tal de Gilberto passa longe diante da indignação de ler um texto medíocre desses num jornal com tamanha representação no País.
Se ele puder cair, ótimo. Não precisamos de gente que "erre" em escala nacional quando se trata de começar um diálogo desses.